Algo diferente acontece quando os limites são estabelecidos de forma autoritária, de cima para baixo, sem nos empenharmos em fazer as crianças sentirem que foram escutados em suas necessidades. Isso acontece quando produzimos falas como: ”você vai dormir agora porque eu estou mandando, e pode parar de chorar e ir pro seu quarto, já falei mil vezes que está tarde!”. Essa abordagem também ensina muito aos filhos, e eles aprendem muito rápido. Aprendem a serem obedientes para não serem castigados.
As consequências emocionais negativas aos castigos são grandes: as famílias que castigam, ou ameaçam castigar, ensinam a seus filhos que eles não são dignos de respeito. Ensina que seus filhos são “errados” ao sentirem e expressarem o que sentem, que não podem confiar nos pais e nem mesmo em seus próprios sentimentos.
Essas crianças ficam desamparadas, não sabendo o que sentir para não desagradar.
Aprendem a dissimular, mentir, enganar para não serem "pegas" fazendo, ou pior, sentindo algo considerado errado. Aprendem também a fazer o que mandam, sem questionar, sem precisar pensar ou escolher por si só.
Entendem que as relações não são de igual para igual, de mútuo respeito, e sim que há nas relações um ser inferior e outro superior. Ao se sentirem inferiores e não merecedores de respeito, tornam-se crianças submetidas e/ou rebeldes. No momento em que puderem inferiorizar outra pessoa, animais ou brinquedos, o farão para se sentirem superiores como os pais.
Se o autoritarismo está em um extremo, a permissividade está em outro.
Dar limite de forma permissiva aos filhos é deixá-los, cedo demais, tomarem decisões que ainda não têm condições (cognitivas, psicológicas e emocionais) de tomar. Eles fazem algo achando que escolheram fazê-lo, mas de fato fazem o que conseguem e não sabem lidar com as consequências desses atos. Assim, agindo sem os limites necessários, sem bordas pré-determinadas por um adulto, as crianças se sentem abandonadas, perdidas e inseguras.
Por sua vez, ser firme e ao mesmo tempo respeitosa ao estabelecer limites aos filhos na 1ª infância é uma arte, é se manter firme em sua objeção de maneira equilibrada, amorosa e solidária.
Ensinamos, com esse comportamento, que eles podem desejar e sentir, que são dignos de respeito pois seus desejos foram escutados e considerados por nós, embora nem sempre atendidos. Ensinamos que eles podem se entristecer, se frustrar, que frustração dói, e quando dói podem expressar sua dor e chorar, que serão acolhidos, considerados em seus sentimentos legítimos. Quando sentem que foram escutados em suas necessidades com uma fala amorosa, aprendem que se sentir compreendido pode curar, aproximar e deixar mais leve sua dor, aprendendo o que é empatia e solidariedade.
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